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BLOG DO MÁRIO

Neste blog eu posto de tudo um pouco, prezando sempre por assuntos que despertam interesse do leitor, evitando assuntos polêmicos como política, religião e futebol. Boa leitura! Eu sei que você vai curtir.

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05
Out08

Triângulo amoroso

Mário Sérgio Figueredo

João descobriu desde cedo sua paixão pelas motos e principalmente pela estrada, paixão avassaladora e incontrolável. Assim que completou 18 anos, a primeira providência foi tirar a sua carteira de habilitação e comprar a sua tão sonhada motocicleta. Pegou suas economias de vários anos e com um pouco de ajuda do papai, logo estava motorizado, claro, em duas rodas.
 
Aventureiro por natureza, João não teve medo de encarar a estrada e tomou gosto pela coisa. Todo final de semana ou feriado, lá estava o João e a sua querida, reluzente e maravilhosa moto, engolindo quilômetros de estrada.

Qualquer evento sem importância em outra cidade era motivo para o João viajar e mesmo no destino, difícil era ver a moto do João desligada. O desejo de andar de moto era quase uma compulsão.
 
Numa dessas viagens, João conheceu Maria. A afinidade entre ambos aflorou também de forma avassaladora e recíproca, amor à primeira vista. Para completar o quadro, João descobriu em Maria a companheira estradeira que tanto queria. Não se passaram nem seis meses e já estavam casados. Os três: João, Maria e a moto. União perfeita, relacionamento perfeito.

Com o passar do tempo, a quilometragem de estrada do trio aumentava vertiginosamente. Maria nunca dizia "não" para qualquer programa que significasse sair de moto, não importava a distância ou as condições meteorológicas, nem um temporal os prendia em casa.
 
Num belo dia, Maria acordou enjoada, achou que adoecera e procurou um médico. Que surpresa maravilhosa, logo a família aumentaria. No decorrer dos meses, a barriga de Maria também aumentava, tornando-se um complicador para manter a rotina motociclística que o casal estava acostumado.

No final da gravidez, tornou-se impossível andar na garupa da moto e João, grande companheiro e participativo, passou a ficar mais tempo em casa, solidarizando-se ao estado desconfortável que impedia Maria de fazer uma série de coisas até então fáceis.
 
Numa madrugada qualquer, aquela correria para a maternidade. Poucos momentos depois nascia Joãozinho, um garoto forte e saudável, enchendo de alegria os corações do casal, dos vovôs, dos tios, dos cunhados...
 
Se antes era a barriga de Maria que obrigava o casal a ficar em casa, agora era o Joãozinho, que requeria cuidados especiais de Maria e a impedia definitivamente de qualquer aventura motociclística, exigindo atenção 24 horas por dia.
 
João, conformado, não via uma estrada há muito tempo, muito mais tempo do que ele jamais imaginou conseguir suportar. Seus únicos momentos com sua "amada" eram a ida e a volta do trabalho que lamentavelmente era muito perto e não saciava a terrível sede de andar de moto.
 
Aos poucos, o seu limite de abstinência estava se aproximando. Sua alma clamava por uma estradazinha e os gritos do seu instinto aventureiro começaram a soar cada vez mais alto, tornando-se ensurdecedores.
 
Seu humor começou a mudar. João, antes uma pessoa afável e agradável, estava se tornando impaciente e intolerante e, para complicar mais ainda, começaram os desentendimentos com Maria, coisa que até então raramente ocorria. Passaram a ser freqüentes e por motivos banais as brigas do casal.
 
Não agüentando mais o stress, João começou a sair de moto sozinho, fazendo pequenos percursos, deixando Maria em casa, cuidando de Joãozinho, ignorando o sofrimento que essa mesma abstinência causava a ela.
 
Os passeios de João começaram a ficar cada vez mais longos, sempre sozinho, sem Maria que, conformada entendia a necessidade de João e procurava não brigar por este motivo, afinal quando ela o conhecera ele já tinha o vício da aventura e da estrada. E durante muito tempo foi assim.
 
Os anos foram passando, Maria, mãe dedicada, abdicou definitivamente da moto e da estrada porque nela não cabiam os três, ainda mais que a pouca idade de Joãozinho o impedia de andar na garupa.

Com Joãozinho maior, ficou mais fácil deixá-lo de vez em quando com a vovó e assim Maria podia matar a saudade em passeios curtinhos de moto. Estradas longas como ela adorava, não mais.
 
Joãozinho finalmente completou sete anos e a partir de então a legislação já permitia que ele andasse na garupa de motos. Para João, isso foi um presente dos deuses porque Joãozinho demonstrava ter herdado os genes paternos e, para a alegria do pai, dava a certeza que seria mais um motomaníaco.
 
Joãozinho passou a ser o companheiro estradeiro do pai, acompanhando-o para todo canto. Difícil o final de semana em que ambos não saboreassem vários quilômetros de asfalto. E Maria, coitada de Maria, boa dona-de-casa, mãe dedicada, conformava-se e ficava satisfeita em ver a felicidade do filho e o retorno do bom humor do marido. A paz voltava a reinar dentro de casa.
 
Ao completar 18 anos, com o incentivo do pai, Joãozinho também tirou sua carteira de motociclista e ganhou de João a sua primeira motocicleta. Com esse episódio, a garupa de João voltou a ficar livre e como Joãozinho agora tinha "rodas próprias" e não exigia mais tantos cuidados maternos, Maria voltou a ocupar o posto de garupa permanente de João.
 
Voltaram para a estrada, voltaram a viajar como antes, voltaram a ser felizes em poder desfrutar do prazer em fazer o que mais gostavam. Voltaram, principalmente, a namorar.
 
Num belo dia, Maria acordou enjoada. Não procurou um médico porque já conhecia aquele sintoma. Bem, deixa pra lá, senão a história vai se tornar muito longa. Mas asseguro que no final, viveram felizes para sempre.

Essa historinha fictícia é uma homenagem a todos nós pais e mães motociclistas. Mostra os desafios e os sacrifícios que fazemos por nossos filhos. Se for preciso, abdicamos de tudo que mais gostamos para cuidar e educar nossos rebentos, principalmente a mãe, a verdadeira mãe, que coloca a criação dos filhos acima de qualquer outra prioridade, seja ela qual for. Abdicamos até de nossas queridas motos, se necessário.

By: Mário Sérgio Figueredo

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